Eu descobri que a vida deveria ser menos carnal.
A gente sente muito as coisas, sente no ouvido, sente no nariz, na boca, no pescoço e por toda linhagem geográfica corporal, amalgamando todos os tipos de sensações às dores e júbilos da carne.
É por isso que existem os exageros, por essa imprudência sentimental que invade os corpos sem pedir licença, fazendo-nos sentir vinte e quatro horas por dia.
Eu queria estar isenta de certas dores diárias, como pentear o cabelo pela manhã, bater o dedo do pé na quina da cama, a lente ardendo no olho, a coluna nas aulas de história. Mas só algumas dores, porque afinal, eu não viveria sem passar a língua freneticamente na afita localizada estrategicamente entre os dentes e o lábio inferior.
Se a escolha de sentir fosse nossa, tudo seria mais interessante de se viver.
Numa prova de matemática por exemplo, zero. Um zero bem inexorável, como diria Zezé.
A sensação de revolta, raiva, ou até tristeza, poderia ser simplismente banida, e você acordaria às cinco da tarde, de cara pra um lindo sol poente.
ê vidão
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